Cespe / Cebraspe
Analista de Controle
TCE-RJ
2022
Matéria: Português – Gramática

Não é preciso temer as máquinas, à maneira do Exterminador do futuro, para se preocupar com a sobrevivência da democracia em um mundo dominado pela inteligência artificial (IA). No fim das contas, a democracia sempre teve como alicerces os pressupostos de que nosso conhecimento do mundo é imperfeito e incompleto; de que não há resposta definitiva para grande parte das questões políticas; e de que é sobretudo por meio da deliberação e do debate que expressamos nossa aprovação e nosso descontentamento.

Em certo sentido, o sistema democrático tem se mostrado capaz de aproveitar nossas imperfeições da melhor maneira: uma vez que de fato não sabemos tudo, e tampouco podemos testar empiricamente todas as nossas suposições teóricas, estabelecemos certa margem de manobra democrática, uma folga política, em nossas instituições, a fim de evitar sermos arrastados pelos vínculos do fanatismo e do perfeccionismo.

Agora, novas melhorias na IA, viabilizadas por operações massivas de coleta de dados, aperfeiçoadas ao máximo por grupos digitais, contribuíram para a retomada de uma velha corrente positivista do pensamento político. Extremamente tecnocrata em seu âmago, essa corrente sustenta que a democracia talvez tenha tido sua época, mas que hoje, com tantos dados à nossa disposição, afinal estamos prestes a automatizar e simplificar muitas daquelas imperfeições que teriam sido — deliberadamente — incorporadas ao sistema político.

Dessa forma, podemos delegar cada vez mais tarefas a algoritmos que, avaliando os resultados de tarefas anteriores e quaisquer alterações nas predileções individuais e nas curvas de indiferença, se reajustariam e revisariam suas regras de funcionamento. Alguns intelectuais proeminentes do Vale do Silício até exaltam o surgimento de uma “regulação algorítmica”,celebrando-a como uma alternativa poderosa à aparentementeineficaz regulação normal.

Evgeny Morozov. Big Tech. A ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu Editora, 2018, p. 138-139 (com adaptações).

Com relação a aspectos linguísticos do texto CB1A1-I, julgue o seguinte item.

No terceiro parágrafo, o adjetivo “tecnocrata” (segundo período) qualifica o termo “pensamento político” (primeiro período).

Comentário rápido

“Tecnocrata” não retoma “pensamento político”, mas, sim, a “corrente” mencionada.

Comentário longo

O adjetivo “tecnocrata” qualifica diretamente a “corrente” mencionada no mesmo período, não o “pensamento político” do período anterior.

A corrente é descrita como “extremamente tecnocrata”, indicando uma ênfase na tecnologia e dados como solução para imperfeições políticas.

Qual é a diferença entre coerência e coesão?

  • Coerência
    • Relacionada à lógica interna e à conexão entre as ideias do texto.
    • Envolve a organização das ideias de maneira compreensível e lógica.
    • Depende do conhecimento de mundo do leitor e da interpretação das intenções do autor.
    • Exemplo:
      • Um texto argumentativo com uma sequência lógica (introdução, desenvolvimento, conclusão) que mantém o foco na tese apresentada.

  • Coesão
    • Refere-se ao uso de elementos linguísticos que conectam palavras, frases, parágrafos.
    • Inclui conjunções, pronomes, sinônimos, entre outros recursos para garantir fluidez.
    • Ajuda a evitar repetições desnecessárias e torna o texto mais agradável.
    • Exemplo:
      • Uso de pronomes para evitar repetição de nomes e conjunções para conectar ideias de forma lógica.

Coerência e coesão-01

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