FGV
Auditor de Controle
CGE-PB
2024
Matéria: Português – Interpretação de Textos

Observe o seguinte capítulo do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis:

“Pádua era empregado em repartição dependente do ministério da guerra. Não ganhava muito, mas a mulher gastava pouco, e a vida era barata. Demais, a casa em que morava, assobradada como a nossa, posto que menor, era propriedade dele. Comprou-a com a sorte grande que lhe saiu num meio bilhete de loteria, dez contos de réis. A primeira ideia do Pádua, quando lhe saiu o prêmio, foi comprar um cavalo do Cabo, um adereço de brilhantes para a mulher, uma sepultura perpétua de família, mandar vir da Europa alguns pássaros, etc.; mas a mulher, esta D. Fortunata que ali está à porta dos fundos da casa, em pé, falando à filha, alta, forte, cheia, como a filha, a mesma cabeça, os mesmos olhos claros, a mulher é que lhe disse que o melhor era comprar a casa, e guardar o que sobrasse para acudir às moléstias grandes. Pádua hesitou muito; afinal, teve de ceder aos conselhos de minha mãe, a quem D. Fortunata pediu auxílio. Nem foi só nessa ocasião que minha mãe lhes valeu; um dia chegou a salvar a vida do Pádua. Escutai; a anedota é curta.

O administrador da repartição em que Pádua trabalhava teve de ir ao Norte, em comissão. Pádua, ou por ordem regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador com os respectivos honorários. Esta mudança de fortuna trouxe-lhe certa vertigem; era antes dos dez contos. Não se contentou de reformar a roupa e a copa, atirou-se às despesas supérfluas, deu joias à mulher, nos dias de festa matava um leitão, era visto em teatros, chegou aos sapatos de verniz. Viveu assim vinte e dois meses na suposição de uma eterna interinidade”.

Sobre a esquematização do tempo nesse fragmento narrativo, é correto afirmar que:

Comentário longo

A. Evolução cronológica contínua dos fatos narrados

  • Incorreta: O texto não apresenta uma sequência cronológica linear e contínua de eventos. Ele inicia falando sobre a situação financeira e doméstica de Pádua, depois menciona um evento passado (a compra da casa com o prêmio da loteria) e retorna ao presente da narrativa para contar sobre a substituição do administrador e as consequências dessa mudança para Pádua.

B. Prolepse, ou seja, uma antecipação das ações futuras

  • Incorreta: Não há no texto uma antecipação de eventos futuros. O narrador relata eventos passados e presentes, mas não antecipa ações que ainda vão acontecer.
  • Realmente prolepse é uma antecipação de ações futuras.

C. Pausa, ou seja, um momento em que a ação narrativa para

  • Correta (Gabarito): O fragmento apresenta uma pausa narrativa quando descreve a mudança de comportamento de Pádua após ganhar o prêmio da loteria e ao substituir o administrador. Essa pausa é usada para refletir sobre as decisões de Pádua e as influências de sua esposa e da mãe do narrador, não avançando a ação, mas aprofundando o entendimento do leitor sobre os personagens e suas motivações.

D. Elipse de tempo, quando se salta de um momento a outro na sequência

  • Incorreta: O texto de Machado de Assis não apresenta uma elipse que avança o tempo na sequência dos eventos narrativos de forma a omitir detalhes entre dois pontos temporais futuros. Em vez disso, o que Machado fez foi uma pausa narrativa e ofereceu um retorno ao passado para explicar a origem da propriedade de Pádua e suas decisões financeiras, antes de voltar ao “presente” da narrativa.

E. Esquematização básica dos textos narrativos: uma situação inicial, um elemento perturbador, os fatos ou acontecimentos e uma resolução final

  • Incorreta: O fragmento não apresenta todos os elementos de uma estrutura narrativa básica completa. Ele foca mais na descrição de eventos e decisões dos personagens do que em apresentar uma situação inicial clara, seguida de um elemento perturbador, desenvolvimento e resolução.

Qual a diferença entre elipse, prolepse e pausa narrativa?

  • Na gramática, a elipse é uma figura de linguagem que ocorre quando há a omissão de um ou mais elementos que são facilmente identificáveis pelo contexto da frase, mas que, quando omitidos, não causam prejuízo à compreensão do enunciado.
  • Essa omissão é intencional e estilística, permitindo que a mensagem seja transmitida de maneira mais concisa, dinâmica e, muitas vezes, poética.

Exemplo MUITO simples:

  • Eu vou ler Harry Potter hoje. [Frase completa]
  • Vou ler Harry Potter hoje. [Com elipse: o sujeito “Eu” é omitido]

Conceitos importantes:

  • Pausa Narrativa: Interrupção da ação para inserir descrições ou reflexões, sem avançar a história.
  • Prolepse: Antecipação de eventos futuros da história, criando expectativa ou suspense.
    • Sinônimo: antecipação
  • Elipse de Tempo: Omissão de um período de tempo, pulando partes da história para focar em eventos chave.
Elipse prolepse pausa-01

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Faça sua pré-matrícula:

plugins premium WordPress