Redação deixa sempre um clima de suspense, no mundo dos concursos públicos. A verdade é que muitos têm problemas ao escrever seus textos, e na maioria das vezes não sabem o que e por que estão errando. Este artigo responderá as dúvidas de quem precisa garantir uma boa nota nas discursivas.
A seguir, eu cito alguns problemas que os concurseiros de um modo geral enfrentam, quando o assunto é redação:
- Fogem do tema como o diabo foge da cruz
- Não entendem por que seus textos não são considerados claros por outras pessoas
- Tiram notas baixas, apesar de se considerarem bons em português
- Preocupam-se mais com a legibilidade da letra do que com o que vai escrever (esse é um dos erros mais tristes)
- Escrevem sem pensar e, por isso, cometem erros básicos
- Não conseguem responder o que a banca pergunta
- Sabem escrever para outros meios, mas não sabem escrever para o examinador
- Acham que não sabem nada sobre o tema
- Têm medo de fugir do café com leite (e não acrescentam, ao texto, parágrafos essenciais para aumentar a nota)
Se você se encaixa em pelo menos um dos “males da redação” citados na lista acima, então este post é para você. Escrever bem se tornou uma obrigação para a maioria esmagadora de concurseiros, e cometer qualquer gafe pode ser a diferença entre passar ou não.
É muito comum ver notas ZERO (ou notas muito baixas, até mesmo insuficientes para fazer o mínimo que a banca pede), em redações de concursos. Eu já vi bons concurseiros tirando notas altíssimas na parte objetiva da prova e reprovando na parte discursiva.
O propósito do meu artigo é evitar que você esteja na pele de concurseiros assim. Quero que você tire a nota máxima. Por isso, eu trago, agora, 4 dicas matadoras para você melhorar sua redação e tirar notas altas em seus textos. Em resumo, as dicas são:
- Entre aspectos formais e aspectos de conteúdo, escolha os de conteúdo
- Não deixe o examinador pensar
- Citação: por que, quando e como fazer
- O que fazer na hora da prova
- Como colocar em prática
Dica #1. Entre aspectos formais e aspectos de conteúdo, escolha os de conteúdo
É verdade que se deve tomar alguns cuidados formais na hora de fazer uma redação, mas o que mais importa é o seu conteúdo. Muito mais do que acertar na gramática ou fazer uma letra legível na hora de passar a limpo um texto, a banca quer saber se você sabe mesmo sobre o tema.
Na maioria dos casos, os aspectos formais contam apenas 10% da nota de sua redação, enquanto os de conteúdo são distribuídos nos 90% restantes.
E por que isso acontece?
Existe essa Teoria, sabe – a Teoria do Iceberg –, segundo a qual os aspectos visíveis e palpáveis são menos importantes do que os aspectos invisíveis e abstratos.
Vou explicar melhor.
Essa Teoria foi formulada por um dos maiores escritores da literatura norte-americana (Ernest Hemingway). Ela é denominada “Teoria do Iceberg” porque, não importa o tamanho que seja um iceberg acima da superfície marítima (com um pico visível), sua parte abaixo da linha do mar (invisível) será sempre maior. Essa analogia foi feita por Hemingway para demonstrar que a parte formal de um texto (como escrever) é menos importante do que sua parte informal (o que escrever).
A Teoria do Iceberg pode ser facilmente incorporada às questões discursivas de concursos públicos. No gráfico a seguir, mostro essa teoria aplicada à maioria dos casos de provas subjetivas:
Gráfico da nota: dê mais valor ao conteúdo (Teoria do Iceberg adaptada para redações de concurso).
Agora vou te mostrar alguns exemplos na prática. Abaixo, estão partes de alguns dos editais mais cobiçados da administração pública, mais especificamente, as partes que trazem os critérios de avaliação das bancas de concurso. Ao lado esquerdo de cada parte do edital, há um gráfico vermelho, mostrando os aspectos “acima da superfície” do iceberg, e um gráfico verde, mostrando os aspectos “abaixo da superfície” do iceberg.
Critérios de correção de uma das provas discursivas para Analista Legislativo do Senado Federal (2012).
Prova do BNDES.
As mesmas observações que eu fizer abaixo (para o Cespe) valem para a Fundação Cesgranrio, já que ela também não coloca, no edital, critérios objetivos (em termos de pontos) de correção das discursivas.
Prova de Técnico Judiciário e Analista Judiciário do TJDFT.
Já que o Cespe não divide as notas em uma tabela, vou explicar melhor o critério de correção, até porque essa é, de longe, a banca mais importante.
Quando você vai fazer uma redação do Cespe, a parte do iceberg “abaixo da superfície” vale 100% da nota (no caso, o 100% da discursiva do TJDFT foi de 10 pontos). Como é possível observar (no item 9.7.4), o Cespe leva tão a sério a pertinência do conteúdo que zera a prova de quem foge do tema! Cuidado.
Vale a pena destacar um ponto importantíssimo, que muitas pessoas desconsideram: o tópico 9.7.6 elimina qualquer candidato que tire menos de 50% na prova discursiva.
Ok, mas isso tudo significa que não existem erros formais, para o Cespe (acima da superfície)?
Existem! Eles são descontados da nota que você tirou na parte de conteúdo. Assim, caso você tenha tirado 10 na parte de conteúdo, ainda podem ser descontados erros de translineação, margens, legibilidade etc.
Ainda assim pode ser considerado que 90% da nota da prova será dada pelos aspectos de conteúdo?
Sim, sem dúvida. Principalmente no que diz respeito ao Cespe, o conteúdo vale muito mais do que os detalhes formais. Claro que, quanto menos pontos descontados, melhor, mas você deve SEMPRE estar atento ao conteúdo, ao tema. A relação entre a parte abaixo da superfície e a parte acima da superfície é de causa e consequência.
Se o seu conteúdo está bom (pertinente, coeso e bem conectado), então a parte formal de seu texto está boa. E por que isso acontece? Simplesmente porque, ao treinar conteúdo, você treina, automaticamente, o que está na superfície de seu texto.
Você não pode, entretanto, afirmar o seguinte: “se eu treinar a forma, estarei treinando o conteúdo”. Ãhn ãhn. É possível treinar forma fazendo até receita de bolo. Como sabemos que com receita de bolo não é possível passar em concursos públicos, o jeito é arregaçar as mangas e estudar – muito – como organizar as ideias e entregar um texto de extrema qualidade, ao examinador. E é isso o que vamos fazer.
Dica #2. Como fazer introdução, desenvolvimento e conclusão (o café com leite das discursivas para concursos)
É claro que existem alguns aspectos formais muito importantes, que contam pontos como se fizessem parte do conteúdo. São como aspectos “quase-que-formais” da redação: não chegam a ser formais, nem fazem parte do conteúdo, mas ajudam a criar o conteúdo. Esses aspectos são: introdução, desenvolvimento conclusão.
Para prosseguirmos, eu só quero que você vá com um conhecimento prévio: o significado de período. Período é uma frase que possui pelo menos uma oração (ou seja, pelo menos um verbo). Um período começa com letra maiúscula e termina com um ponto final. Beleza? Vamos continuar.
Já é lugar-comum dizer que uma redação precisa de introdução, desenvolvimento e conclusão. Isso é o básico, o café com leite de seu texto, então entenda melhor para que serve cada uma dessas três partes:
A introdução
Serve para dizer ao examinador que, hey, você entendeu o tema! Além disso, você tem que afirmar alguma coisa em relação ao tema, e também tem que dizer como vai desenvolver esse tema.
Peraí, Carol, agora eu me confundi forte, aqui.
Vou te explicar melhor.
Você vai dividir sua introdução em 2 partes:
Primeira parte (um ou dois períodos)
- dizer ao examinador que entendeu o tema. Você faz isso ao repetir os aspectos gerais do tema. Isso não pode tomar mais do que uma linha.
- afirmar alguma coisa sobre esse tema. Você faz isso se posicionando acerca do tema, concordando, discordando, falando de sua importância etc. Também deve tomar, no máximo, uma linha.
Essa primeira parte é o que os professores geralmente denominam “tese”.
Segunda parte (um a quatro períodos)
- dizer ao examinador como seu tema será desenvolvido.
Isso é muito fácil de ser feito. O desenvolvimento tem, geralmente, 3 ou 4 parágrafos, como veremos a seguir. Você vai usar esses parágrafos para construir sua introdução.
Considere que você vai fazer algumas promessas ao examinador: “ei, examinador, vou falar disso, isso e daquilo outro!”.
Você faz isso da seguinte maneira: na introdução, em até três linhas, indique o que haverá nos parágrafos de seu texto. Seja claro ao fazer isso: separe cada assunto de cada parágrafo por vírgulas ou pontos.
Tranquilo, né? Então vamos para o desenvolvimento.
O desenvolvimento
Agora é hora de explicar tudo o que você falou na introdução, só que com detalhes.
Para o desenvolvimento, tenho três regras a te passar:
- Cumpra o que você prometeu: na introdução, você fez algumas promessas. Você disse que iria falar sobre alguns assuntos, no decorrer do seu texto. Então, cumpra o que você prometeu, exatamente na ordem colocada na introdução.
- Não faça nada além do prometido: há pessoas que prometem, na introdução, falar de “ABC” e acabam explicando o alfabeto inteiro. Você não deve fazer nem mais nem menos, mas a medida certa.
- Obedeça ao princípio da igualdade entre os parágrafos: ok, eu inventei esse princípio, mas vou explicar melhor meu ponto de vista. O que mais vejo, em textos de concurseiros, é se começar o desenvolvimento com um parágrafo de 8 linhas e fazer mais dois parágrafos de 2 linhas. Não estou dizendo que deve haver exatamente a mesma quantidade de linhas, mas é sempre bom manter uma diferença de, no máximo, duas linhas, entre um parágrafo e outro, para você conseguir explicar toda a sua introdução.
O seu desenvolvimento ocupará pelo menos 60% do seu texto, e é responsável pela maior parte de sua nota na questão discursiva, então é melhor que o faça com carinho.
A conclusão
Retome tudo o que foi dito, inclusive (e principalmente) sua tese.
Como você vai retomar (em dois períodos):
- Relembre ao examinador tudo o que você disse no desenvolvimento.
- Reafirme sua tese, ou seja, “reafirme sua afirmação” da introdução.
Dica #3. Se a banca te der limões, faça uma limonada
Não brigue com a banca: se ela te mandar fazer alguma coisa, obedeça. Em outras palavras, não invente de fazer um suco de morango se a banca te der limões.
O que a banca pode te pedir:
- “Coloque um título” – só faça isso se a banca pedir formalmente.
- “Assine seu texto com o nome Tal” – só faça isso se a banca pedir formalmente.
- “Coloque uma data” – só faça isso se a banca pedir formalmente.
- “Responda à seguinte pergunta” – nesse caso, basta responder à pergunta (sem introdução, desenvolvimento e conclusão).
- “Use tal ordem, ao escrever seu texto” – importante e obrigatório (vou explicar a seguir).
- “Coloque, necessariamente, introdução, desenvolvimento e conclusão” – importante e obrigatório (vou explicar a seguir).
Quero que você dê muita atenção aos dois últimos “tipos de pedidos” das bancas, acima. Aqui, há pegadinhas que podem te tirar do páreo.
A banca geralmente faz esses pedidos em uma estrutura de tópicos. Abaixo há um exemplo clássico de questão do tipo “estrutura de tópicos”.
(Cespe, MDIC, Analista Técnico-Administrativo, 2014)
Nesse tipo de situação, você terá que sair do café com leite. Perceba, no enunciado da questão discursiva, que a banca coloca a palavra “necessariamente”. Para você entender o que a banca realmente quer, troque a expressão “necessariamente” por “obrigatoriamente e NESTA ORDEM”.
Você fará um texto com apenas três parágrafos, sem introdução e sem conclusão.
Sei que pode parecer estranho, mas é assim que é. Quando há essa estrutura de tópicos, dizendo para que você atenda “necessariamente” ao que se pede, o examinador quer que você faça um parágrafo para o que é pedido no primeiro tópico, um parágrafo para o que é pedido no segundo tópico e um parágrafo para o que é pedido no terceiro tópico.
Dica #4. Conheça os mitos que te fazem errar e os use para acertar (o quinto mito é cruel)
A preocupação exacerbada com os aspectos formais levam a mitos. Mitos levam a erros. Erros te prejudicam.
Abaixo, trago uma lista com os principais mitos, e como os superar.
Mito #1. “A letra tem que ser cursiva”
A sua letra pode ser letra de forma, desde que seja capitulada, ou seja, desde que dê para diferenciar as minúsculas das maiúsculas.
Mito #2. “Isso é para o que se falou e isto é para o que se vai falar”
Tanto faz: na hora de escrever, “isto” ou “isso” têm o mesmo significado. Não precisa se preocupar com a diferença entre um e outro.
Mito #3. “Eu não posso repetir palavras de jeito nenhum”
O seu texto tem de ser claro. Você não pode exagerar na repetição de alguns vocábulos (como ‘que’ e ‘de’), mas, se for necessário fazer a repetição, não se acanhe.
Mito #4. “Rascunho é perda de tempo”
Fazer o texto diretamente na folha definitiva é como dar um tiro no próprio pé. E eu falo isso por experiência própria. Use sua folha de rascunhos, nem que seja para fazer uma ficha do que você pretende falar.
Para fazer este texto, por exemplo, eu usei um super mapa mental, que me ajudou na hora de organizar as ideias, olha só:
É claro que, para sua prova, o mapa mental seria muito menor.
E a boa notícia é: com o tempo, criando muitos mapas antes de escrever seu texto, você aprenderá a fazer rascunhos em menos de 5 minutos.
Mito #5. “Escrever bem significa escrever palavras difíceis”
Não! Não deixe o examinador pensar! Seja claro, evite termos técnicos (mesmo que seu texto seja para um cargo relacionado a alguma área cheia de jargões). Se precisar usar algum termo técnico, explique-o.
Mito #6. “Não existe mais a regra de colocar aspas em palavras estrangeiras”
Ouvi muito esse mito quando a ESAF, uma vez, cobrou o assunto “accountability”. As pessoas insistiam que esta palavra estrangeira não precisava de aspas porque ela já tinha sido escrita no enunciado da questão. Balela pura. Quem não colocou as aspas perdeu pontos, na prova.
O fato é que ainda é obrigatório utilizar aspas em quaisquer palavras estrangeiras. Claro que, se fosse em um texto no computador, o certo seria colocar itálico. Como não é, coloque aspas e fica tudo certo.
As palavras (e expressões) estrangeiras mais comuns são: internet, a priori, email, output, software, online, site, blackout, internet, checks and balances, accountability, best seller, ticket, management.
Mito #7. “Quando eu não sei a grafia certa da palavra, o jeito é chutar”
Quando você não souber a grafia de uma palavra, faça o máximo de esforço para encontrar um sinônimo. Eu selecionei algumas palavras que deixam dúvidas, mas, se ainda assim você não conseguir lembrar ou tiver o mínimo de dúvida, procure um sinônimo.
Grafia de algumas palavras comuns, em redações de concursos públicos:
- Exceção
- Assessor
- Cálculo
- Enchente
- Excepcional
- Sessão (usada para designar reuniões ou assembleias separadas em determinados períodos de tempo) – exemplo: “A sessão da Câmara dos Deputados iniciar-se-á às 10h” ou “A sessão do filme ainda não começou”
- Seção (parte de um todo) – exemplo: “Seção XIX” ou “Seção de roupas”
- Cessão (substantivo que vem do verbo ceder)
- Norte-americano
- Frisar
- Perda: substantivo
- Perca: verbo
Esses são os mitos, de maneira geral. Você lembra de mais algum? Comente!
Resumindo: o que você aprendeu?
- A verdadeira razão de ser do seu texto está no conteúdo (90% da nota), não na forma (10% da nota);
- A introdução serve para você construir sua tese e montar três argumentos, que serão explicados no desenvolvimento;
- No desenvolvimento, faça parágrafos com tamanhos parecidos, e explique o que foi prometido na introdução;
- A conclusão deve retomar o que foi dito no desenvolvimento e reafirmar a tese da introdução;
- Se a banca te der uma estrutura de tópicos, responda a esta estrutura na ordem pedida pela banca;
- Defenda-se dos mitos sobre redação, principalmente dos seguintes:
- “Escrever bem significa escrever palavras difíceis”;
- “Rascunho é perda de tempo”.
Qualquer dúvida, sugestão ou opinião, deixe seu comentário abaixo!
Bons estudos, boa sorte e, claro, como sempre, eu te desejo uma ótima vida.
Carol 🙂
Respostas de 196
Oi Carol, fiquei com uma dúvida em relação a conclusão. Devo primeiro reafirmar a introdução e depois retomar o que foi dito nos parágrafos ou vice-versa?