Texto para o item
A figura do jovem revoltado precisa ser reexaminada. Seu comportamento não se explica pela fome nem pela miséria absoluta. Pelos seus próprios depoimentos, recolhidos em conversas fora dos inquéritos policiais, um grande móvel para sua adesão ao crime do tráfico de drogas é o enriquecimento rápido. Após a gradual conversão aos valores da violência e da nova organização criminosa montada no uso constante da arma de fogo, esse jovem descobre os prazeres da vida de rico e com ela se identifica. Seu consumo passa a ser uma cópia exagerada, orgiástica, do que entende ser o luxo do rico: muita roupa, carros, mulheres, uísque (bebida de “bacana”) e muita cocaína (coisa de gente fina). No entanto, é um iludido: com o ganhar fácil, porque seu consumo orgiástico, excessivo, o deixa sempre de bolso vazio, a repetir compulsivamente o ato criminoso; com o poder da arma de fogo, que o deixa viver por instantes um poder absoluto sobre suas vítimas, mas que acaba colocando-o na mesma posição diante dos quadrilheiros e policiais mais armados do que ele; com a possibilidade, enfim, de que, apesar de jovem e pobre, vai “se dar bem” e sair dessa vida de perigos e medos.
É possível afirmar que, ao contrário do que se diz, a criminalidade violenta diminui, a médio e longo prazos, a renda familiar dos pobres. O crime organizado, por suas características empresariais ilegais, é altamente concentrador de renda. Não sofre nenhum tipo de limitação das leis de mercado, de preços ajustados, de salários mínimos estipulados, de direitos trabalhistas para os seus peões. O crime organizado trafega nos preços cartelizados e na punição com a morte daqueles que ousam desobedecer à ordem e à vontade do chefe ou simplesmente denunciá-lo. Os pequenos traficantes da favela, apesar de todo o aparato militar, na verdade, estão ajudando a enriquecer aqueles que controlam o tráfico de drogas em toneladas e o contrabando de armas, o receptador, o funcionário público corrupto, o advogado criminal, e assim por diante. Pouquíssimos jovens saídos das camadas pobres conseguem se estabelecer, mas todos contribuem para enriquecer outros personagens que continuam nas sombras e que são os principais beneficiários das cifras da criminalidade. Os efeitos da guerra clandestina já se fazem sentir na população que abriga os bandidos identificados como tal: como as mortes violentas atingem principalmente homens jovens em idade produtiva, as famílias se veem privadas daqueles que seriam os mais importantes contribuintes para a renda familiar.
Alba Zaluar. Integração perversa: pobreza e tráfico de drogas.
Rio de Janeiro: FGV, 2004, p. 65-66 (com adaptações).
A respeito dos aspectos linguísticos do texto, julgue o item seguinte.
Os elementos que compõem a enumeração no trecho “o tráfico de drogas em toneladas e o contrabando de armas, o receptador, o funcionário público corrupto, o advogado criminal” complementam o sentido da forma verbal “controlam”.
A questão realmente trata de um verbo transitivo direto, conforme o enunciado. O problema é que a questão destacada explora a ambiguidade na enumeração de elementos relacionados à ação de “enriquecer” e “controlar” em um contexto de tráfico, apresentando duas possíveis interpretações.
A primeira limita “controlam” ao tráfico e contrabando, enquanto a segunda expande para incluir todos os elementos listados.
Eu não gosto de trazer só questões moles, fáceis. Essa aqui é uma questão bonita, que tira do jogo o apressado, ou a pessoa que estuda português muito cansada.
Vamos lá: que o Cebraspe adora paralelismo, quase todo bom concurseiro sabe. COMO o Cebraspe cobra isso, menos concurseiros ainda sabem!
Nesse caso, o Cebraspe usa a transitividade verbal para pregar uma boa peça no concurseiro.
O trecho diz o seguinte:
Os pequenos traficantes da favela, apesar de todo o aparato militar, na verdade, estão ajudando a enriquecer aqueles que controlam o tráfico de drogas em toneladas e o contrabando de armas, o receptador, o funcionário público corrupto, o advogado criminal, e assim por diante.
Temos, aqui uma AMBIGUIDADE. Não é possível confirmar se a enumeração é relacionada somente à forma verbal “controlam” ou também à forma verbal “enriquecer”.
POSSIBILIDADE #1:
Quem os pequenos traficantes estão ajudando a enriquecer?
→ Aqueles que controlam o tráfico de drogas em toneladas e o contrabando de armas
→ O receptador
→ O funcionário público corrupto
→ O advogado criminal
Nesse caso, a palavra “controlam” refere-se apenas ao tráfico de drogas e ao contrabando de armas.
POSSIBILIDADE #2:
Quem os pequenos traficantes estão ajudando a enriquecer?
→ Aqueles que controlam
→ → o tráfico de drogas em toneladas e o contrabando de armas
→ → o receptador
→ → o funcionário público corrupto
→ → o advogado criminal
Nesse caso, a palavra “controlam” refere-se a todos os elementos enumerados pela banca.
Como há duas possibilidades, há uma ambiguidade, ou seja, mais de uma possibilidade de interpretação conforme o texto.
Quais são as transitividades verbais?
A transitividade verbal é um conceito gramatical que descreve como os verbos se relacionam com os outros elementos da oração. Essa relação define se um verbo necessita de complementos para ter seu sentido completo e qual tipo de complemento é necessário. | |
Verbo IntransitivoVerbos intransitivos são aqueles que não precisam de complemento para terem seu sentido completo. Eles podem ser acompanhados de adjuntos adverbiais, que adicionam circunstâncias à ação, mas não completam o sentido do verbo.
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Verbo Transitivo Direto (VTD)Verbos transitivos diretos exigem um complemento chamado objeto direto (O.D), que se liga ao verbo sem preposição. O objeto direto responde às perguntas "o quê?" ou "quem?" em relação ao verbo.
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Verbo Transitivo Indireto (VTI)Verbos transitivos indiretos requerem um complemento chamado objeto indireto (O.I), que se liga ao verbo com preposição. O objeto indireto responde às perguntas "a quem?", "para quem?", "de quem?", etc.
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Verbo Transitivo Direto e Indireto (VTDI)Alguns verbos exigem dois complementos: um objeto direto (sem preposição) e um objeto indireto (com preposição). Esses verbos são chamados de transitivos diretos e indiretos.
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