O ídolo
Em um belo dia a deusa dos ventos beija o pé do homem, o maltratado, desprezado pé, e desse beijo nasce o ídolo do futebol. Nasce em berço de palha e barraco de lata e vem ao mundo abraçado a uma bola.
Desde que aprende a andar, sabe jogar. Quando criança alegra os descampados e os baldios, joga e joga e joga nos ermos dos subúrbios até que a noite cai e ninguém mais consegue ver a bola, e quando jovem voa e faz voar nos estádios. Suas artes de malabarista convocam multidões, domingo após domingo, de vitória em vitória, de ovação em ovação.
A bola o procura, o reconhece, precisa dele. No peito do seu pé ela descansa e se embala. Ele lhe dá brilho e a faz falar, e neste diálogo entre os dois, milhões de mudos conversam. Os Zé Ninguém, os condenados a serem para sempre ninguém, podem sentir-se alguém por um momento, por obra e graça desses passes devolvidos num toque, essas fintas que desenham os zês na grama, esses golaços de calcanhar ou de bicicleta: quando ele joga, o time tem doze jogadores.
− Doze? Tem quinze! Tem vinte!
A bola ri, radiante, no ar. Ele a amortece, a adormece, diz galanteios, dança com ela e, vendo essas coisas nunca vistas, seus adoradores sentem piedade por seus netos ainda não nascidos, que não estão vendo o que acontece.
Mas o ídolo é ídolo por um momento, humana eternidade, coisa de nada; e quando chega a hora do azar para o pé de ouro, a estrela conclui sua viagem do resplendor à escuridão. Esse corpo está com mais remendos que roupa de palhaço, o acrobata virou paralítico, o artista é agora uma besta:
− Com a ferradura, não!
A fonte da felicidade pública se transforma no para-raios do rancor público:
− Múmia!
Às vezes o ídolo não cai inteiro. E às vezes, quando se quebra, a multidão o devora aos pedaços.
(GALEANO, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Porto Alegre: L&PM, 1995, p. 5)
Vocabulário:
finta: drible
Como se trata de um texto de cunho literário, há na crônica presença expressiva da linguagem figurada.
O trecho em que se pode identificar um exemplo de prosopopeia (também chamada de personificação) é:
Quando a alternativa diz que “a bola procura”, ela está dando vida a um ser inanimado (a bola), garantindo que é a bola que procura.
A alternativa “D” do trecho “A bola o procura (…). Ele lhe dá brilho e a faz falar, (…)” é um exemplo claro de prosopopeia ou personificação.
Neste caso, a bola, um objeto inanimado, é descrita como se tivesse a capacidade de procurar e reconhecer o jogador, além de “falar”, o que lhe atribui qualidades humanas ou animadas.
O que é personificação? Qual é seu sinônimo?
Sinônimo: prosopopeia. | |
Personificação é uma figura de linguagem utilizada para atribuir características humanas a seres inanimados, animais ou conceitos abstratos. É uma forma de expressão que enriquece o texto, tornando-o mais vívido e imaginativo. | |
Exemplos:
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MEDIDA APLICADA LTDA
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